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Resenha Crítica – Concerto “Scheherazade”,
escrito por Marco Antônio Seta, em 16/11/2025
Um concerto atípico e desequilibrado no Theatro Municipal de São Paulo
Theatro Municipal de São Paulo – 15 de novembro de 2025
O concerto realizado em 15 de novembro de 2025, no Theatro Municipal de São Paulo, transcorreu sob circunstâncias atípicas, em razão da ausência da regente norte-americana JoAnn Falletta, previamente anunciada para conduzir o programa. A instituição não forneceu qualquer esclarecimento ao público presente, perpetuando uma prática que, infelizmente, tem se tornado recorrente: cancelamentos de artistas — solistas, maestros estrangeiros e cantores líricos — sem comunicação clara ou justificativas oficiais por parte da atual gestão do Complexo, administrado pela Sustenidos Organização Social de Cultura.
A sala de espetáculos apresentava público reduzido, em contraste com a frequência "lotada" frequentemente divulgada pela administração. Observavam-se numerosas poltronas vazias na plateia, nos balcões nobre e simples e no foyer da sala.
Diante da situação, coube à maestra assistente Priscila Bomfim assumir, às vésperas das apresentações, a regência da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo (OSM), conduzindo o concerto com profissionalismo e competência notáveis.
Registra-se, paralelamente, que permanece em vigor no Theatro uma programação paralela de caráter formativo e experimental “Theatro de Portas Abertas”, oficinas de desenho de observação, jogos de interpretação, visitas temáticas, ateliês diversos, entre outros cujo conteúdo, embora pertinente em determinados contextos, parece destoar da vocação intrínseca do Municipal, tradicionalmente dedicado à ópera, ao balé e ao repertório coral e coral-sinfônico. A predominância dessas ações reforça sensação de dispersão na identidade artística da instituição.
Primeira Parte – Ellen Zwillich e Maurice Ravel
A abertura do concerto deu-se com o Concerto Grosso 1985, de Ellen Zwillich, obra de aproximadamente 13 minutos, estruturada em atmosfera de forte dramaticidade. A regente Priscila Bomfim apresentou leitura cuidadosa e equilibrada; contudo, a tonalidade sombria e o caráter fúnebre da composição, aliada à instrumentação de perfil mais camerístico destacando-se o uso de cravo não despertaram maior interesse do público, cuja recepção mostrou-se visível
Seguiu-se a execução do ciclo Shéhérazade, de Maurice Ravel (1875–1937), com a participação da mezzo-soprano Denise de Freitas. A artista, entretanto, não apresentava sua melhor forma vocal naquela ocasião, evidenciando emissão pouco expressiva, insuficiente nas regiões graves e com algumas inflexões inadequadas ao refinamento exigido pelo repertório impressionista.
Os aplausos moderados ao término do ciclo não ensejaram retorno ao palco da solista ou da regente, denotando certa frieza na recepção geral da obra. Não foi para menos essa atitude do público presente ao concerto em epígrafe.
Segunda Parte – Rimsky-Korsakov
Na segunda parte, dedicou-se a OSM à execução da Suíte Sinfônica “Scheherazade”, de Nikolai Rimsky-Korsakov (1844–1908), ponto alto do concerto. A narrativa musical inspirada na figura da sultana que adia sua execução ao fascinar o sultão Schahriar com histórias sucessivas encontrou interpretação coesa e vigorosa.
O protagonismo coube ao spalla Alejandro Aldana, responsável pelo tema de Scheherazade, cuja sonoridade se destacou pela clareza, elegância e sensibilidade interpretativa. O solista de violino tem um som mais profundo, mais alto e mais irritado do que antes, indicando que Scheherazade está começando a atingir um clímax ou uma parte de reviravolta de sua história. Além disso, o tema tem mais cordas duplas, como se Scheherazade estivesse tentando soar duas vezes mais alto do que antes.Seu solo central na narrativa e repetido ao longo das quatro partes articulou com fluidez os diferentes quadros da suíte:
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I – O mar e o navio de Sindbad,
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II – A narrativa do príncipe Calender,
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III – O jovem príncipe e a princesa,
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IV – Festa em Bagdá; naufrágio do navio contra o rochedo coroado pela estátua de bronze.
A execução apresentou coesão entre os naipes e precisão técnica, resultado de uma condução rigorosa e musicalmente bem fundamentada. A maestra Priscila Bomfim demonstrou domínio do repertório sinfônico, confirmando capacidade de extrair da OSM interpretações detalhadas e expressivas, tanto no repertório operístico quanto no estritamente sinfônico.
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