CONCERTOS DIDÁTICOS A EXEMPLO DO ESPÍRITO SANTO E DA PETROBRÁS (RJ)

Orquestra nas Escolas leva concertos didáticos gratuitos à Serra em outubro

A Orquestra Sinfônica do Estado do Espírito Santo (Oses) retorna às escolas da Serra em outubro com a série Orquestra nas Escolas, oferecendo concertos didáticos gratuitos voltados a estudantes de áreas com maior vulnerabilidade social. A iniciativa, que integra o eixo social do Programa Estado Presente em Defesa da Vida, tem como objetivo aproximar crianças e jovens da linguagem da música erudita por meio de apresentações interativas nas próprias quadras das escolas. 

O formato das apresentações privilegia a interatividade: maestro e músicos apresentam os instrumentos individualmente e em pequenos grupos, explicando timbres e funções de cada seção da orquestra uma espécie de aula-show pensada para estimular o interesse dos alunos e formar públicos futuros. Além do repertório clássico, o programa inclui arranjos de trilhas sonoras e sucessos populares para tornar a experiência mais acessível. 

Programação (Serra)

  • 06/10 EEFM Germano André Lube (Das Laranjeiras) e EEEFM Marinete de Souza Lira (Feu Rosa)
    A temporada seguirá até 10 de outubro com apresentações também em Cariacica, Vila Velha e Vitória. A abertura local acontece no dia 6, sempre a partir das 10h. 

Repertório (amostral)

O programa previsto inclui tanto obras eruditas quanto músicas conhecidas do grande público, por exemplo: marchas e peças instrumentais clássicas, concertino para flauta, o tradicional “Pomp and Circumstance”, temas de filmes (como A Bela e a FeraMissão: Impossível e Frozen), além de músicas populares e toadas locais. Entre as peças citadas estão uma marcha de Johann Strauss I, o Concertino de Cécile Chaminade e músicas populares contemporâneas. 

Equipe e solistas

Os concertos na série serão regidos por Helder Trefzger e Sanny Souza, com a participação dos solistas Danilo Klem e Lucas Rodrigues. As apresentações são gratuitas e abertas à comunidade escolar. 

Crédito: matéria original publicada por Ana Paula Bonelli no Jornal Tempo Novo


O DESCALABRO CULTURAL DO MUNICIPAL DE SÃO PAULO: UM TEATRO À DERIVA SOB A GESTÃO DA SUSTENIDOS



A recente notícia sobre o Projeto da Petrobrás no Theatro Municipal do Rio de Janeiro somada às ações exemplares realizadas no Espírito Santo, tanto na capital Vitória quanto em cidades do interior capixaba,  escancara, sem piedade, o abismo que separa o verdadeiro compromisso com a Educação Musical e a formação de plateias da vergonhosa encenação administrativa que hoje domina o Theatro Municipal de São Paulo sob o comando da Sustenidos Organização Social de Cultura.

Enquanto nos outros estados vemos projetos sérios, estruturados e progressivos, com planejamento pedagógico, orientação de público, palestras preparatórias e ações educativas consistentes, em São Paulo reina o amadorismo disfarçado de modernidade. Aqui, o que se faz é distribuir ingressos de modo aleatório, a grupos avulsos e desinformados, sem qualquer preparo, sem palestrantes, sem mediação e sem objetivo educativo real.

Tudo é pura fachada, retórica vazia, discurso panfletário para alimentar ambições políticas futuras. É o teatro da hipocrisia, não da cultura.


Pior ainda, o cidadão que tenta levar um grupo escolar para assistir a um espetáculo se depara com um labirinto burocrático kafkiano, repleto de exigências absurdas e inúteis como o envio de CNPJ (CGC) da escola e formulários intermináveis para conseguir um simples convite gratuito. Um processo tão obtuso que desestimula qualquer iniciativa genuína de formação cultural.

A Orquestra Sinfônica Municipal, o Coral Lírico Municipal e o Coral Paulistano, o Balé da Cidade de São Paulo; pilares históricos da casa, não oferecem um único concerto didático às escolas públicas, privando milhares de jovens do contato inicial com a música erudita. Limitam-se a apresentações esparsas, burocráticas e desprovidas de alma, o retrato fiel de um trabalho frouxo, inerte e sem vocação pública.

E como se não bastasse o descompromisso, o Theatro Municipal de São Paulo ainda se vê hoje afundado em projetos absolutamente desconexos de sua verdadeira vocação. Em vez de fomentar a ópera, o balé e a música de concerto, sua essência artística e histórica, o teatro se perde em um emaranhado de atividades que nada têm a ver com sua missão:


“Theatro de portas abertas”; “modelo vivo”; “caminhar, descobrir, desenhar,  desenho de observação”; “linha, forma e cor”; “(re) entorno um percurso de descoberta do entorno ao teatro”; “repertório das mãos”; “dobras, picotes e desdobramentos”; “dobraduras”; “ateliês abertos com jamac”; “exposição: o que você sabe fazer bem?” um verdadeiro cabide de empregos sustentado por oficinas de artesanato; repertório das mãos,  desenho infantil, origami - entre vales e montanhas... etc; atividades plásticas/teatrais,  deslocadas e banais, completamente fora da vocação nobre e artística do Theatro Municipal, que deveria ser o templo da Ópera, da Música Sinfônica e do Balé Clássico, Neoclássico, moderno ou contemporâneo. Um acinte  bárbaro !

Enquanto isso, o público e a juventude ficam à margem, sem acesso à verdadeira formação musical e estética. O resultado é um teatro esvaziado de conteúdo, desfigurado em sua identidade e transformado em um laboratório de improvisações sem propósito.

Enquanto outros teatros cumprem com seriedade sua missão cultural e social, o Theatro Municipal de São Paulo afunda na mediocridade e na desorientação institucional, convertido em símbolo do descaso, da má gestão e da decadência cultural patrocinada pela Sustenidos Organização Social de Cultura.

Um descalabro sem precedentes. Um escândalo cultural travestido de gestão e eficiência.

Escrito por Marco Antônio Seta em 07 de Outubro de 2025

Comentários

Anônimo disse…
Concordo em grande parte com as ideias centrais do autor. Realmente, levar a música erudita (e não só ela) a escolas de forma interativa é uma estratégia poderosa de democratização cultural e de formação de plateias. Esse tipo de ação, como o “Orquestra nas Escolas”, pode inspirar jovens a descobrir uma paixão pela música e sensibilizá-los para o valor estético da arte sonora.
Também compartilho da indignação frente à burocracia que muitas vezes impede ou dificulta que escolas ou grupos estudantis participem de eventos culturais. Quando uma instituição cultural impõe exigências demasiadas como exigir formulários extensos, regras complexas isso distorce a ideia de “acesso” e acaba por excluir os mais vulneráveis. Concordo com o autor que uma gestão cultural autêntica deveria estar comprometida com a missão educativa e social, não apenas com a exibição de eventos pontuais ou com interesses politico-institucionais.

Da mesma forma, o alerta que ele
Jadson Mundim disse…
Concordo inteiramente com o texto e também com o comentário anterior. Projetos como o Orquestra nas Escolas mostram o que realmente significa pensar cultura como instrumento de transformação. É assim que se forma público, despertando nas crianças o encantamento pela música e o respeito pelo trabalho artístico.

O contraste com a situação do Theatro Municipal de São Paulo é gritante lá se perdeu a noção do que é compromisso cultural e educativo. Faltam ações simples, diretas e humanas como essa, que levam a arte onde ela de fato precisa chegar. Quando a música chega às escolas, ela muda a forma de olhar o mundo. É isso que faz falta: vontade genuína de educar pela arte, e não apenas administrar espetáculos.
Anônimo disse…
Concordo, em sua inteireza, com a tessitura analítica delineada, cuja arquitetura discursiva revela uma lucidez rarefeita e de feição quase ontológica, sobretudo ao perscrutar os nexos de coerência estética e interpretativa que, como eixos subterrâneos, sustentam o organismo expressivo do resultado final. É incomum e por isso notável encontrar um discurso crítico capaz de entrelaçar, sem deslizes reducionistas, as camadas técnica, musical e cênica em um mesmo plano de inteligibilidade estética.
A menção ao equilíbrio entre concepção e execução, por sua vez, adquire relevo particular, pois deixa entrever uma escuta atenta não apenas ao vetor projetual da obra, mas também à reverberação fenomenológica dessa intenção nas instâncias performativas. Há, portanto, um mérito duplo: o da precisão reflexiva e o da profundidade analítica qualidades que, conjugadas, instauram um campo de leitura de rara densidade e coerência interna.
Valeska Nardelli disse…
Concordo plenamente não, mais que isso: reverencio com olhos arregalados e trombones imaginários com a análise apresentada, que se ergue como um castelo de partituras em chamas, flutuando sobre um mar de flautas e violoncelos que, secretamente, conspiram para dominar o mundo da crítica musical. É raro, raríssimo, encontrar um texto crítico que consiga articular a técnica, a música, a cênica e até o cheiro do café do maestro numa única frase sem explodir em confete metafísico.

A menção ao equilíbrio entre concepção e execução brilha como disco voador em meio a uma tempestade de clarinetes, provando que o olhar do autor não se limitou às partituras, mas se estendeu juro! até aos insetos que ousaram pousar no palco e aos sapatos de verniz do contrabaixista, que devem ter pensado: “Finalmente alguém percebeu meu sofrimento existencial”.

Parabéns por essa clareza absurda e profunda, que nos faz rir e chorar simultaneamente, imaginar maestros surfando em harpas enquanto o público toca castanholas e perguntar-se se o triângulo também merece reconhecimento filosófico. Se a crítica musical fosse um circo, este texto seria o elefante equilibrista que ainda toca Schubert com uma trompa de espuma.