O DESMONTE DAS TEMPORADAS LÍRICAS EM SÃO PAULO

 Saudosas Temporadas Líricas comparadas às da atual Administração da Sustenido Organização Social de Cultura no Theatro Municipal de São Paulo. 


            Longo seria enumerar as temporadas de óperas ocorridas neste Theatro Municipal de São Paulo, entretanto nos dignamos citar a de 1974, apenas para exemplificar,  como as coisas ocorriam em nosso maior centro operístico de São Paulo. A cidade sempre, e por tradição,  realizou temporadas líricas nacionais e internacionais  Por este teatro desfilaram nomes de diversas etnias e graduações técnicas-artísticas, provenientes de mescladas regiões do Universo. Visitaram São Paulo, a convite do saudoso empresário Alfredo Gagliotti, que aqui realizou as maiores temporadas líricas de todos os tempos de nosso Municipal; grandes nomes sobrevieram como o soprano japonês Yasuko Hayashi e o tenor Beniamino Prior em Madama Butterfly; ambos astros na época, digo nas décadas de 1970/80Edna Garabedian e Sérgio Di Amorim com Haroldo Lara, Teresa Boschetti com Lygia Lacerda em Cavalleria Rusticana;  ao  lado Gastone Limarilli, Benito Di Bella, Fernando Teixeira e Marta Baschi num excelente I Pagliacci;... me lembro também de Il Guarany, (de verdade) sob a direção musical e artística de Armando Belardi, incansável batalhador à obra de Carlos Gomes, numa edição inesquecível desta bela obra de Gomes (Niza de Castro Tank e Sergio Di Amorim, com Costanzo Mascitti, Andrea Ramus, Agnaldo Albert, Wilson Carrara, Assadur Kiulhtzian, Luíz Orefice  e Benedito Silva) no elenco artístico e, finalmente,  "Il Trovatore" regido pelo maestro competente e talentoso Gigi Campanino e os cantores Nunzio Todisco, Ileana Meriggioli, Nicoleta Ciliento, Benito Di Bella, Paulo Adonis, Teresa Boschetti, Assadur Kiulhtzian e Luiz Orefice com João de Brás. 

            Hoje temos uma sequência de óperas mutiladas, lacradas, deturpadas e enxertadas, com situações alheias e com caráter político enviesados, repletos de clichês e estereotipados, intrusos e mal vindos ao conteúdo editado por célebres e consagrados compositores como Giuseppe Verdi, Giacomo Puccini, Carlos Gomes, Georges Bizet,  Wolfgang Amadeus Mozart, Franz Lehár e Richard Strauss, entre outros de diversas nacionalidades. Basta pinçar as horrendas encenações de "Aída", em 2022 ) lembrando daquele massacre dos bonecos de pano representando a luta entre etíopes e egípcios sob o  desvio da música de ballet do 2º Ato de Aída, na cena triunfal, na qual nada havia de triunfal e sim de massacre e destruição do teor real da ópera no decorrer do majestoso Ato II, Quadro II. Pensar que Bia Lessa não desconfiou de que os frequentadores do Municipal não sabiam que aquela música maravilhosa de Verdi nada tinha haver com o desmonte da ópera a que se propusera encenar, aliás muitíssimo mal lograda. Nunca mais em Bia Lessa,.....  no Theatro Municipal, fora já e para sempre !!!  Depois foi a vez de Il Guarany, ( maio de 2023) na produção de Ailton Krenak e Cibele Forjaz e na presença de um Cacique esdrúxulo, caricato e de voz excessivamente balançada;  com outro desmonte da célebre obra de José de Alencar, com libreto de Antonio Scalvini e Carlo D"Ormeville; e música do campineiro e imortal compositor Carlos Gomes. Os doubles eram preferidos nos aplausos preterindo os intérpretes de bom nível musical (Atalla Ayan, Enrique Bravo (Peri),  sobretudo a Ceci de Nadine Koutcher. Já lembraram dos enxertos dos temas indígenas e que nada tem com a música do seu compositor e que lá adentraram como se fossem morcegos voadores, corujas desnorteadas na alta madrugada ? E aquelas redes em tapeçaria penduradas nas varas do teatro, de custo altíssimo aos patrocinadores da ópera, os quais nem fazem ideia de quanto elas custaram aos cofres dos mesmos patrocinadores ? Tenham a certeza de que tudo aquilo e mais os figurinos inadequados aos diversos personagens foram despesas desnecessárias, as quais poderiam ser revertidas na contratação de um verdadeiro "regisseur" e de outros cantores para um Gonzales,  um Don Antonio de Mariz e um Cacique de verossimilhança à altura de suas incumbências na ópera prima de Gomes. E ainda tiveram a ousadia de reprisar isso em fevereiro de  2025, como se não houvesse outros títulos a serem trabalhados com dignidade.(Fosca, Maria Tudor, Condor, Salvator Rosa, Colombo ou ainda Lo Schiavo ) ou Maddalena, A Manina nas Nuvens e a Yerma do imenso compositor carioca  Villa-Lobos estreada no Rio de Janeiro,  em 1983 sob a direção de Dalal Achcar, então diretora do Thearo Municipal daquela capital brasileira. 

        Depois foi a vez de "Nabucco", em 2024 outro desastre de incorreções, deturpados, inexcrupulosos e arrogantes, inadequadas inserções de cenas,  e mal distribuídas situações cênicas, enxertos, mutilações, falta de instrumentos na orquestra, cortes e mudanças, tapeações de músicos na sul palco preteridas por gravações de péssima nitidez auditiva, trapaceadas para com o público e péssimas escolhas de seus in-térpretes, estes mal distribuídos em suas vocalidades e assim por diante; sem falaar numa regência sempre irregular de seu maestro titular a OSM  (Roberto Minczuk, regente titular e direção musical de ).  

         

        E ultimamente, o "Don Giovanni", de Mozart, ( nasceu em Salzburgo, 1756; faleceu em 1791, em Viena).  outro desacerto, com trechos traduzidos para o português e outros simplesmente criados a bel prazer, , bem como falta de respeito para com o público que assola ao teatro, faminto por uma ópera de classe original , de brio e, acima de tudo, de uma genialidade sem precedentes de um mestre único do clacissismo, natural de Salzburgo - Áustria   (Mozart, 1756; faleceu em 1791, em Viena). A própria citação de que outros países também traduzem “trechos ou a ópera inteira” é uma autodefesa antecipada para possíveis questionamentos do público e da crítica, além de ser também um argumento vago, sem qualquer exemplo prático de países ou grandes teatros que tenham utilizado tal expediente recentemente. Vale registrar que, via de regra, costumam ser traduzidas apenas operetas e os trechos falados de obras no estilo do Singspiel alemão, ou seja, obras que mesclam passagens faladas/declamadas aos números musicais (árias, duetos, etc.). Há poucos dias, aliás, tivemos exemplos perfeitos: no Rio de Janeiro (TMRJ), a opereta A Viúva Alegre foi totalmente cantada em português; e em São Paulo (Theatro São Pedro), Fidelio (um Singspiel) teve os seus trechos falados traduzidos e ligeiramente adaptados para atender à proposta cênica. No caso das óperas totalmente cantadas, no entanto, é bem mais raro haver traduções. Muitos saíram do Municipal, estarrecidos, por assim perceber que o maestro da ópera não prima de integralidade da obra e pelo primor da interpretação lírico-dramática e tragicômica desta ópera nada mais há que ser realizado para deixar de assolar o palco do Thearo Municipal de São Paulo. A única solução é a de nomear outro diretor artístico e musical para a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo. Nada mais a realizar e comentar. 

Escrito por Marco Antônio Seta, em 17/5/2025.

Marco Antônio Seta
Jornalista – MTB 61.909
Licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO e diplomado pelo Conservatório "Dr. Carlos de Campos" (Tatuí-SP); formado também pelo Instituto de Educação "Peixoto Gomide", em Itapetininga-SP.

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